Na
vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza.
Quem tem âncora vive apenas a nostalgia e não saudade. Nostalgia é uma
lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra. Uma pessoa tem saudade
quando tem raízes, pois o passado a alimenta. Vou sair da minha cidade, do meu
país, mas minha cidade, meu país não vão sair de mim vou feliz sem esquecer
minhas raízes. Pessoas que têm nostalgia estão quase sempre às voltas com um
processo de lamentação.
Como
curiosidade, lembro que a palavra nostalgia foi criada por um médico alemão no
século 19. Naquela época, quem tinha ferimento feio tinha de amputar o membro
ferido. E, como hoje, muita gente que perdeu uma parte do corpo relata
continuar sentindo desconforto, coceira ou dor no membro que não existe mais. E
então o médico alemão pegou duas palavras gregas antigas e as uniu: nosto, que significa volta, e algo, que quer dizer dor. Assim, nostalgia ficou sendo a dor
da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo.
Todos
nós temos raízes e também âncora. O problema é quando as âncoras superam as
raízes. O nostálgico amarga e sofre, o saudoso se alegra, pois ele deixa fruir
aquilo que viveu. O nostálgico se aproxima daquilo que os antigos chamavam de
melancolia e que hoje é chamado de depressão, esse perigo. Vez ou outra é
preciso fazer um “balanço” de mim mesmo, de modo a ver se estou sendo puxado
para as raízes ou para as âncoras, para a saudade ou nostalgia, para a alegria
ou para a depressão.
Em
qualquer ano que uma pessoa tenha atravessado, é impossível viver sem
cicatrizes. Quando falo em cicatrizes falo sobre marcas, por exemplo: Tenho um
grande amigo chamado Bruno, há pouco tempo ele recebeu a notícia que será pai
dentro de pouco tempo, tenho percebido esta cicatriz benéfica na vida dele,
quando encontrar-lo daqui algum tempo jamais poderei dizer a ele – Nossa Bruno
você não mudou nada! Claro que mudou, ser pai cicatriza. Por isso, uma das coisas que não desejo ouvir
quando encontrar com alguns de meus leitores quando estiver em vista ao Brasil
é: “Romildo, você não mudou nada!” Como não mudei? Só o fato de ter saído,
partilhado, compartilhado, vivenciado, convivido com pessoas, experimentado
coisas, tudo isso fará com que eu mude. Muitas coisas que eu pensando no começo
do ano não penso mais e vice-versa, pois sou capaz de mudanças, graças aos
Deus.
Sou um
ser flexível, e ser flexível é muito diferente de ser volúvel. Flexível é
aquele que muda quando considera adequado mudar. Volúvel é aquele que muda por
qualquer coisa. A nostalgia é tristeza da mudança continua. A saudade é a
experiência de mudança que conduz ao crescimento. A nostalgia é uma armadilha,
registrada pelo estupendo poeta Português Fernando Pessoa em um dos versos mais
brilhantes da língua portuguesa, que está num poema escrito em 1930 e assinado
por Álvaro de Campos, um de seus heterônomios: “Compre chocolate à criança a
quem sucedi por erro”. À criança a quem sucedi por erro!! Ora, isso é nostalgia
pura, dor pura. Não é uma raiz. É uma âncora, nostalgia e da mais dolorosa,
aquilo que Carlos Drummond de Andrade chamou de “a pedra no meio do caminho”.
Percalços
são inevitáveis, toda vida é composta por erros e acertos, por dores e
delícias. A maioria das pessoas acredita piamente que aprendemos com erros. Cautela
com isso. Em minha opinião, aprendemos é com a correção dos erros; se
aprendêssemos com erros, o melhor método pedagógico seria errar bastante. Ora,
brincando, podemos lembrar que todo cogumelo é comestível – só que alguns uma
única vez... Eis um equivoco que não dá para corrigir depois
Não é
erro; é a correção do erro que ensina.