quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CUIDADO COM A TACOCRACIA

                                      
Se você não se cuidar a “Tacocracia” vai te alcançar.


Foi em uma palestra do professor Mário Sergio Cortella, professor de filosofia da PUC que ouvi pela primeira vez esta palavra. Mas o que é “Tacocracia”? Os antigos gregos, avós da cultura ocidental, usavam o termo “Tákhos” que quer dizer rápido para expressar uma característica ou qualidade específica de algo, não poderiam imaginar que nós seus herdeiros poderiamos também utilizar a mesma expressão como critério de qualidade para as coisas em geral.

Estamos próximos, muito próximos, de uma “Tacocracia”, na qual a rapidez em todas as áreas aparece como um poder quase imperativo e como exclusivo parâmetro para aferir se alguma situação, procedimento ou relação serve ou não serve para as coisas em geral.

A pressa não é mais inimiga de perfeição? Devagar se vai ao longe? Há. Ainda, algum valor que possa ser atribuído a algo que demora um pouco mais para ser feito, ou conquistado? Minha resposta é Não; não temos mais tempo! Cada dia levantamos mais cedo e vamos dormir mais tarde, sempre com a sensação de que o dia deveria ser mais extenso ou não soubemos nos organizar direito.

Não olhamos mais para o relógio para ver que horas são, mas, sim para verificar o quanto falta. É essa urgência de visualizar o intervalo espacial entre os ponteiros que faz, por exemplo, as pessoas dizerem que “até Deus está com pressa”. Quando pedimos pizza ou vamos almoçar em um restaurante a pergunta recorrente é: “Vai demorar em ficar pronto? Em outras circunstancia parece-me ainda mais evidente com, por exemplo, Vou demorar em aprender isso, A conexão é demorada, Ler um livro é demorado, O culto é demorado.

Será um exagero pensar que estamos sendo invadidos pela “Tacocracia”? .Vou contar uma experiência pessoal. Embora eu não seja um freqüentador assíduo de fast foods vez por outra me pego observando como as pessoas se comportam nas praças de alimentação.

Embora reconheçamos que à hora em que nos alimentamos seja sagrada, mas é fácil perceber que já não escolhemos a comida por sua propriedade, passamos a escolher o que vamos comer por número no lugar de nome, não esperamos além de minutos para receber-la; Essa comida deve ter uma consistência que me permita dispensar o trabalho de mastigar muito, podendo inclusive comê-la segurando na mão, após é claro tirar-la de um saco de papel. Fazemos isso em um incomodo banquinho fixo desconfortável diante de uma mesa incomoda ou vivenciando o ápice civilizatório de fazer tudo isso dentro do próprio carro enquanto dirijo.

É pratico? Sem duvida. Mas, é bom? Possibilita que eu ganhe tempo, más, o que faço com este tempo que ganhei? Vou desfrutar mais lentamente de outras coisas ou vou continuar correndo?

Tem alguma coisa errada nessa turbinação toda.

Este processo está bem presente em nossos encontros religiosos, precisamos uma dinâmica litúrgica cronometrada, não há tempo para certos privilégios comunitários, as relações entre irmãos se fazem de forma rápida.

O momento de ceia é o ultimo instante de nossos cultos. Comemos e bebemos simbolicamente os elementos da ceia, mas esquecemos que na prática este momento foi festejado por Jesus com o desejo de estar por mais tempo com seus discípulos. 

Vamos promover mais qualidade de tempo em torno da mesa, vamos enxergar a mesa como um lugar de encontros que nos faça mais íntimos uns dos outros, vamos celebrar ao Cristo que em torno da mesa desejou que estivéssemos nós até que Ele venha.

Em Cristo a caminho dEle.  

terça-feira, 20 de setembro de 2011

RAÍZES E ÂNCORAS


Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncora vive apenas a nostalgia e não saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra. Uma pessoa tem saudade quando tem raízes, pois o passado a alimenta. Vou sair da minha cidade, do meu país, mas minha cidade, meu país não vão sair de mim vou feliz sem esquecer minhas raízes. Pessoas que têm nostalgia estão quase sempre às voltas com um processo de lamentação.

Como curiosidade, lembro que a palavra nostalgia foi criada por um médico alemão no século 19. Naquela época, quem tinha ferimento feio tinha de amputar o membro ferido. E, como hoje, muita gente que perdeu uma parte do corpo relata continuar sentindo desconforto, coceira ou dor no membro que não existe mais. E então o médico alemão pegou duas palavras gregas antigas e as uniu: nosto, que significa volta, e algo, que quer dizer dor. Assim, nostalgia ficou sendo a dor da volta, a dor daquilo que já se foi e continua doendo.

Todos nós temos raízes e também âncora. O problema é quando as âncoras superam as raízes. O nostálgico amarga e sofre, o saudoso se alegra, pois ele deixa fruir aquilo que viveu. O nostálgico se aproxima daquilo que os antigos chamavam de melancolia e que hoje é chamado de depressão, esse perigo. Vez ou outra é preciso fazer um “balanço” de mim mesmo, de modo a ver se estou sendo puxado para as raízes ou para as âncoras, para a saudade ou nostalgia, para a alegria ou para a depressão.

Em qualquer ano que uma pessoa tenha atravessado, é impossível viver sem cicatrizes. Quando falo em cicatrizes falo sobre marcas, por exemplo: Tenho um grande amigo chamado Bruno, há pouco tempo ele recebeu a notícia que será pai dentro de pouco tempo, tenho percebido esta cicatriz benéfica na vida dele, quando encontrar-lo daqui algum tempo jamais poderei dizer a ele – Nossa Bruno você não mudou nada! Claro que mudou, ser pai cicatriza.  Por isso, uma das coisas que não desejo ouvir quando encontrar com alguns de meus leitores quando estiver em vista ao Brasil é: “Romildo, você não mudou nada!” Como não mudei? Só o fato de ter saído, partilhado, compartilhado, vivenciado, convivido com pessoas, experimentado coisas, tudo isso fará com que eu mude. Muitas coisas que eu pensando no começo do ano não penso mais e vice-versa, pois sou capaz de mudanças, graças aos Deus.

Sou um ser flexível, e ser flexível é muito diferente de ser volúvel. Flexível é aquele que muda quando considera adequado mudar. Volúvel é aquele que muda por qualquer coisa. A nostalgia é tristeza da mudança continua. A saudade é a experiência de mudança que conduz ao crescimento. A nostalgia é uma armadilha, registrada pelo estupendo poeta Português Fernando Pessoa em um dos versos mais brilhantes da língua portuguesa, que está num poema escrito em 1930 e assinado por Álvaro de Campos, um de seus heterônomios: “Compre chocolate à criança a quem sucedi por erro”. À criança a quem sucedi por erro!! Ora, isso é nostalgia pura, dor pura. Não é uma raiz. É uma âncora, nostalgia e da mais dolorosa, aquilo que Carlos Drummond de Andrade chamou de “a pedra no meio do caminho”.

Percalços são inevitáveis, toda vida é composta por erros e acertos, por dores e delícias. A maioria das pessoas acredita piamente que aprendemos com erros. Cautela com isso. Em minha opinião, aprendemos é com a correção dos erros; se aprendêssemos com erros, o melhor método pedagógico seria errar bastante. Ora, brincando, podemos lembrar que todo cogumelo é comestível – só que alguns uma única vez... Eis um equivoco que não dá para corrigir depois

Não é erro; é a correção do erro que ensina. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SOMOS IGREJA OU DENOMINAÇÃO (final)


Encerrei minha ultima postagem com uma afirmação “A igreja nunca foi mencionada na Bíblia como local onde se experimenta um estado de Espírito, ao contrário a denominação se apresenta com esta proposta.” Minha proposta não é questionar o fato de existirem denominações, mas de sugerir que existe uma diferença brutal entre ela e a igreja. 


Na continuação voltemos ao texto no livro de Mateus 16.16-18. Jesus já havia dito a Pedro sobre a sua condição de ser alguém mais que feliz por ter compreendido qual de era a posição de Jesus o Cristo no contexto Espiritual na constituição de um organismo Espiritual que se chamaria igreja. Logo em seguida diz o Senhor a Pedro “Eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja, e as portas do inferno não poderão vencer-la” (Tradução NVI) Observamos uma seqüência de advertências irrevogáveis que Jesus faz: 

Diz Ele a Pedro: - Sobre este fundamento que o meu Pai lhe revelou, será mostrado ao homem o maior milagre que ele poderá testemunhar, por meio desta revelação que você acaba de receber de meu Pai, irá se estabelecer definitivamente uma verdade imutável, ela exercerá uma influencia tão grande mais tão grande, que quando você meus discípulos começarem a falar sobre ela, nenhuma criatura racional sobre a face da terra, nem principados ou potestades poderão levantar-se contra ela e esta verdade é: “Eu sou o Cristo o filho do Deus vivo” e a partir desta verdade absoluta e imutável, vocês vão se ajuntar seja dois ou três ou milhares, e chamo a partir de agora está atitude de ajuntamento de igreja, que será “Minha”, serei dela a cabeça, serei dela o mentor, serei dela o defensor, zelarei por ela. 

Vez por outra alguém chega com uma expressão alarmista dizendo – Você viu o que estão fazendo em nome de Deus naquela determinada igreja? – Você soube do escândalo que aquela igreja provocou? – Ah esta igreja está fazendo um desserviço para a igreja de Cristo? 

Gostaria de estimular você a não se deixar levar por estas notícias, quando as tais chegarem a você apena aperte o “Del” não será pecado você não saber daquilo que não te diz respeito, a igreja é Dele, se vier de forma verbal apenas saiba, “Ele disse a igreja é minha e nem as portas do inferno prevalecerão contra ela” foi isso que Jesus disse, não desanime quando vir a sociedade tão corrompida isso significa avanço da igreja - com pode ser avanço da igreja? Só virá a luz o que as está por baixo de trevas, “As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja”. 

Que seja por meio da igreja (leia-se) “ajuntamento por Ele e para Ele” conhecida as muitas formas da sabedoria de Deus, pois foi por meio da obra realizada por Jesus que temos hoje livre acesso a Deus em confiança, pela fé.

PAZ E BEM A TODOS, EM CRISTO POR CRISTO A CAMINHO DE CRISTO

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SOMOS IGREJA OU DENOMINAÇÃO? - (parte 1)

E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; (Mateus. 16. 16-18) 

A partir deste texto conhecido como a confissão de Pedro gostaria de discorrer sobre a pré-ocupação exagerada sobre a Igreja. Gostaria de salientar que li este texto sobre muitas outras perspectivas diferentes desta que agora pretendo apresentar.

Não sei se você, assim como eu, observa certa histeria generalizada quanto ao futuro da igreja, seja ela em âmbito nacional ou mundial, frases como “Precisamos avaliar os rumos que a igreja está tomando”, ou, “O mundo está entrando na igreja” livros apresentam a igreja com adjetivos como: “A igreja emergente” ou “A igreja com propósitos”, depoimentos alarmantes e alarmistas sobre o futuro da igreja estão espalhados por sites do mundo inteiro.

Bem! De fato e isto não é boato, A igreja vem passando por transformações significativas sobre vários aspectos como, por exemplo: A igreja nunca esteve tão mal representada no meio político como hoje está a igreja nunca se viu envolvida em tantos escândalos financeiros de cifras tão elevadas como hoje, a igreja nunca esteve tão chafurdada em pecados morais, mentiras, falcatruas, ausência de ética como hoje, mas a pergunta que se faz é? Os escândalos estão na igreja ou nas denominações que se autodenominam igreja?

Vamos fazer uma pequena pausa para um exercício exegético sobre o texto de nosso irmão Mateus.

Um fenômeno social na época dos fatos de onde tiro minha reflexão, é também um acontecimento bastante peculiar ao que vivemos hoje. Havia grupos oriundos do Judaísmo como: Os Saduceus, partido constituído por grandes proprietários de terras e membros da elite sacerdotal, havia os Escribas que embora não estavam ligados a um segmento social específico, nem constituíam uma seita ou partido, na acepção estrita das palavras, desfrutavam de enorme autoridade, como intérpretes abalizados das Sagradas Escrituras, os Fariseus que faziam parte de um movimento com ramificações em todas as camadas sociais, principalmente nas classes dos artesãos e pequenos comerciantes, e os zelotes, que depositaram grande esperança na liderança política de Jesus.

Veja que a pergunta de Jesus aos discípulos solicitava uma resposta que fosse dada a partir da analise sociocultural dos momentos políticos e religiosos da época, seria mais ou menos como perguntar a um cidadão brasileiro qual é o melhor técnico para seleção brasileira, evidentemente haveria uma enorme lista de qualificados e qualificações para formulação de uma resposta.

Na narrativa que se segue, os discípulos apresentam vários estereótipos utilizáveis na opinião da sociedade em relação a quem era Jesus, mas em uma súbita explosão de revelação divina inspirativa Pedro diz: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”.

Esta afirmação de Pedro me parece a porta de entrada para o exercício exegético destes três versículos em questão. O reconhecimento de Pedro em primeira instância parece ser somente uma afirmação simplista como as que fazemos hoje, como “Glória a Deus”, “O Sangue de Jesus tem poder”, “Só o Senhor é Deus” etc.

Mas observe a seqüência do diálogo iniciado a partir desta explosão de verdade vinda de Pedro. Jesus ouvindo isto responde “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas”. Jesus me parece tão extasiado com a resposta que imediatamente faz uma referencia elogiosa a Pedro com a expressão “Bem Aventurado”, ou seja, “Você é mais que feliz Pedro”.

Você pode estar se perguntando? O que isso tem haver com o título desta postagem? É bem verdade que parece que não chegaremos até um ponto de convergência, mas exegese é assim mesmo.

Culturalmente tratamos a “Bem Aventurança” ou “Muita felicidade” a partir de coisas que nos façam felizes, melhorando um pouco minha argumentação eu diria que estamos passando por um processo de “coisificação” da felicidade, me parece haver uma convocação intencional neste sentido quando não entendemos a felicidade apenas como um estado de Espírito.

A Igreja nunca foi mencionada na bíblia como um local onde se experimenta um estado de Espírito, ao contrário disso, a Denominação se apresenta com esta proposta o tempo todo em todo tempo. A entidade denominacional não é uma entidade espiritual porque se diz igreja, nem é igreja porque se denomina.
(Continua na parte II)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

VIVER AGORA, PAGAR DEPOIS


Santo Agostinho, um dos grandes formuladores do catolicismo, uniu a teologia à filosofia. Sua contribuição para o estudo das taxas de juros, ainda que involuntária, foi tremenda. Em suas ”Confissões”, o bispo de Hipona, filho de Santa Mônica, conta que, ainda adolescente clamou a Deus que lhe concedesse a castidade e a continência e fez uma ressalva - ansiava por essa graça, mas não de imediato. Ele admitiu que receava a concupiscência natural da puberdade. 


A atitude de Santo Agostinho traduz impecavelmente a urgência do ser humano em viver o aqui e agora. Essa atitude alia-se ao desejo de adiar quanto puder a dor de arcar com as conseqüências do desfrute presente sejam elas de ordem financeira ou de saúde. 

É justamente essa urgência que explica a predisposição das pessoas, a pagarem altas taxas de juros para usufruir o mais rápido possível seu objeto de desejo. Os juros são o preço que se paga pelo adiantamento do prazer, isso acontece porque o homem não sabe por quanto tempo vai viver e, portanto valoriza excessivamente o presente, paga caro hoje porque não sabe se vai estar vivo ou em condições de usufruir seu objeto de desejo no futuro, parece-me uma troca quase chegando às raias da naturalidade.

Somos instigados ao proveito material imediatista, compramos automóveis com juros escorchantes, com carnês de financiamento que mais parecem um exemplar da bíblia por puro desejo imediato, e às vezes para não dizer sempre levamos a chaves do bem para ser (ungido-animismo), (trataremos deste assunto em outra ocasião) onde será que colocaremos em breve os textos que tratam de ansiedade?

Paz e bem a todos que de alguma forma buscam esta libertação.